domenica 25 dicembre 2011

Historia de la locura - Michel Foucault e os 50 anos de Historia da Loucura: inflexoes, ressonancias (Rio Janeiro, Brasil, 2011)



Michel Foucault e os 50 anos de História da  Loucura: inflexões, ressonâncias

Dr. Alfredo Veiga Neto:
Ressonâncias entre História da Loucura e Governamentalidade neoliberal: implicações educacionais

Resumo: A partir das relações entre a obra História da Loucura, de Michel Foucault, e o conceito de governamentalidade que o filósofo desenvolveu nos seus cursos no Collège de France, a partir da segunda metade da década de 1970, é possível problematizar e desnaturalizar alguns dos imperativos educacionais contemporâneos. Entre tais imperativos, merecem destaque a flexibilização, a performatividade, a educação para toda vida e, talvez principalmente, as políticas e práticas de inclusão social.

Dr. Guilherme Castelo Branco:
Militância e luta em tempos de biopoder

Resumo: Uma suspeita motivava o trabalho teórico do Foucault nas cercanias e/ou durante os anos oitenta, e centrava-se nos caminhos tomados pela razão no ocidente, assim como em seus efeitos paradoxais na vida das sociedades. Para o pensador, a história da razão, nos últimos três séculos, mostra o crescente avanço de diversas tecnologias de poder, constitui-se de diversas e sucessivas técnicas de controle da subjetividade e das populações, o que faz desta racionalidade, no campo político, uma estranha e questionável conquista no campo histórico-social e político. Para Foucault, tal problema não é somente teórico, mas também afeta a prática cotidiana de cada um de nós, exigindo alguma atitude efetiva de cada membro que participe do tempo presente. È esta tensão que dará o tom do trabalho a ser apresentado.

Dr. Jorge Vasconcellos:
Loucura e vida artista - razão e desrazão na passagem do primeiro para o último Foucault

Resumo: Meditaremos a sobre a relação entre razão e desrazão/loucura, obra de arte e ausência de obra, partindo das últimas páginas da Histoire de la Folie à l’Âge Classique de Michel Foucault. Defendemos que há uma mudança de perspectiva na obra deste pensador ao que diz respeito à relação entre arte e vida em seu livro consagrado ao estudo da experiência trágica da loucura e seus textos e intervenções que investigam uma estética da existência.

Dra.Cristina Rauter:
Da nação (danação) da norma?

Resumo: Algumas considerações sobre as disciplinas no Brasil e seu modo singular de implantação, examinando as instituições manicomiais e as prisões brasileiras. Partimos do pressuposto que as disciplinas não se generalizaram no Brasil como na Europa, mas tiveram um modo "bizarro" de implantação que resultou numa modalidade própria de controle social, não menos rigorosa.

Dr. Evando Nascimento:
Foucault e Derrida: debate em torno da História da loucura

Resumo: Em março de 1963, Derrida pronuncia no Collège philosophique uma conferência em que desconstrói alguns aspectos da História da loucura a partir dos comentários de Foucault sobre o cogito de Descartes: "Cogito et Histoire de la folie". Foucault assiste à conferência - posteriormente publicada em L'Écriture et la différence - e chega a cumprimentar o jovem pensador, que fora seu aluno. A resposta virá apenas dez anos depois, num artigo publicado por Foucault no Japão, posteriormente ampliado e reeditado como apêndice à História da loucura. Intere ssa abordar alguns aspectos filosóficos e políticos da discussão entre o mestre e seu ex-discípulo.

Dr. Daniel Lins:
Historia da loucura - razão, sonho, reinvenção
Resumo: Trata-se de perceber de que modo, ao escrever a Historia da Loucura, Foucault engendrou uma genealogia de experiência, ou melhor, de uma experimentação marcada por uma terrível e singular interrogação, em forma de desafio: é absurdo deseja o impossível? Loucura, sonho, desejo: Foucault ficou!

Ney Ferraz Paiva:
O sofredor do ver: cortar (não para curar) o olho desorbitado da loucura
Resumo: Ler o imaginário delirante que se põe a dizer/ver/mostrar tudo nos tantos cenários sucessivos de “O Sofredor do Ver” de Maura Lopes Cançado e fazer ressoar o conceito de loucura defendido por Michel Foucault em a “História da Loucura”. Tarefa relativamente viável, mas de bifurcações extremas e truncadas, pelo que a história – todas as histórias, reais e fictícias, tendem a encontrar seus pontos de rivalidade, distância, oposição. De seus anos de hospício, Maura Lopes Cançado não teve como ser reinserida em outro lugar senão a literatura. Seu livro “O Sofredor do Ver” (1968) revela aos poucos uma escritora que almeja estar em pleno controle do ato de escrever. Mas ao cabo de tudo, o que resulta dessa experiência de autocontrole é a criação de uma escritura um tanto louca, uma escritura tipo máquina de cortar. Maura se destrói na escrita. Decepa-se, desmembra-se. Seus contos são um breviário de textos lancinantes. Entre a crispação do narrador e a regulação da primeira pessoa os personagens estão permanentemente desequilibrados para a vida. Contudo, Maura não consegue apagar-se aí, sair disso. Ela não escreve para curar-se. Ela vive sua loucura. Sofre-a. Não espera coisa alguma em retorno. Tudo lhe vai mal. Corre sobre ela o outro processo penal a que nem mesmo Kafka foi submetido. A loucura que não inocenta – que condena a si mesma.

Dr. Paulo Amarante:
Foucault e as bases da luta antimanicomial (50 anos + 1 pensando a loucura)


Resumo: A partir de um estranho (e inexistente) encontro entre Michel Foucault e Franco Basaglia no manicômio, o texto tem como escopo a reconstituição da importância da História da Loucura na Idade Clássica e do conjunto da bordara Foucault na criação do Movimento Antimanicomial. Aborda ainda as repercussões que a criação deste movimento tiveram para o próprio Michel Foucault, o que é realizado por meio de uma análise de uma troca de farpas com Franco Basaglia. No meio de inúmeras comemorações dos 50 anos
de História da Loucura, o autor propõe um projeto cultural denominado 50 anos + 1 no sentido de provocar a continuidade dos debates sobre tal obra, para que a "luta" não se encerre.

Dr. Paulo Gibaldi Vaz:
Do conceito de anormal em Foucault

Resumo: O artigo analisará o conceito de anormal em Foucault através de um estudo dos principais livros onde o conceito é central para a apreensão da cultura moderna, a saber, História da Loucura, O nascimento da clínica, Vigiar e Punir e História da Sexualidade I. Um primeiro objetivo é mostrar a evolução do conceito e sua centralidade na conceituação das práticas de poder na cultura moderna. O segundo objetivo será contextualizar a conceituação feita por Foucault. Trata-se, portanto, de uma análise histórica que não se limitará à evolução de seu pensamento. Nesse sentido, será relevante considerar a diferença da problematização da anormalidade em Foucault e aquela apresentada por Canguilhem e pela teoria do interacionismo simbólico (Becker, Goffman e Gusfield), praticamente contemporâneas à proposta por Foucault. Será relevante, também, discutir as possíveis mudanças nas relações entre normal e patológico trazidas pelo conceito de risco.

Dr. André Queiroz:
O Poder/saber psiquiátrico


Resumo: Das intercessões entre literatura e filosofia, trata-se de pensar desde a literatura o espaço/modo do isolamento asilar traçado à letra de Machado de Assis, mas também de Anton Tchecov, Maura Lopes Cançado, Antonin Artaud. Os registros no que se trata de indicar as formas de organização do espaço social a partir da ostensiva exclusão da loucura aos modos da doença mental, qual seja: a sua circunscrição positivada nos liames do saber médico a operar a assepsia biopolítica sobre a vida humana contendo-a ao que se pretenderá como o seu padrão ótimo, e a gestão deste padrão para o tanto da disciplina dos corpos e dos compostos populacionais.

Dr. Edson Passeti:
Loucura e vida como obra de arte
Resumo: Em A história da loucura, Michel Foucault encerra sua pesquisa lidando com a vida de artista e a loucura. Penso que nesta obra, pela primeira vez, ele esboça o que mais tarde veio a chamar de vida como obra de arte. A louca vida dos artistas pode ser confrontada com a vida louca dos alienados, produzida em instituições austeras como o hospício, levada adiante, no Brasil-Rio de Janeiro, por Nise da Silveira. De tanta arte, direta ou indiretamente vinculada à religião, como insistiu o filósofo alemão Max Stirner, a leitura de A história da loucuraconfigura-se como uma procedência relevante para problematizarmos a vida como obra de arte situada por Foucault, no interior do indivíduo, onde começa a ética e a política. Diante das novas conexões, postas na passagem do século XX para o XXI, relativas à administração da loucura, não mais como doença mental, mas comotranstornos que atravessam todos os normais, qual obra de arte cada um pode atiçar em si próprio como liberdade que avance sobre a democracia participativa?

Dr. Arthur Leal:
Governando pela liberdade: modos liberais de gestão e as reformas psiquiátricas

Resumo: A Reforma Psiquiátrica brasileira desde o seu surgimento vem produzindo uma série de transformações, tanto no campo dos dispositivos de assistência quanto nas formas coletivas de trato com a experiência da loucura. A questão da cidadania e da restituição da liberdade aos considerados doentes mentais, tema crucial levantado por este movimento, conduziu à inserção dos usuários dos serviços de saúde mental dentro de uma série de atividades das quais eles eram sumariamente excluídos. No entanto, quando se analisa com maior minúcia o sentido político dessas práticas, configuram-se relações de poder muito singulares e que se articulam a esta idéia de cidadania. Para isso tomaremos como intercessor o conceito de governo de Michel Foucault, descrito como “condução de condutas”, a partir de uma concepção de poder entendida como ação produtiva sobre outras ações livres. É dessa forma que as práticas psi, e mais especificamente as da Reforma Psiquiátrica, serão aqui tomadas como práticas de governo, da gestão de vida de todos e de cada um. A partir do trabalho genealógico de Foucault sobre as práticas de governo, entendidas como formas de condução da conduta alheia, abre-se um campo possível para o estudo do surgimento e das transformações dos saberes psicológicos e psiquiátricos. Aqui teríamos dois marcos: 1) no século XVI, surgem técnicas de governo baseadas no disciplinamento, o “Estado de polícia”; e 2) no século XVIII novas tecnologias de governo em referências liberais. Neste último marco, a psicologia passa a ter especial importância no século XX, atuando especificamente em sociedades democráticas. Não somente através da disciplinarização dos indivíduos, mas principalmente através da liberdade e da atividade destes. Nosso objetivo é avaliar as práticas e conceitos de cidadania e liberdade no contexto de alguns processos de Reforma Psiquiátrica, especialmente a italiana e a brasileira. Para tal, sustentamos a hipótese de que co-existem neste campo não apenas os antigos dispositivos disciplinares e a problematização destes, mas modos liberais de gestão. Para avaliar este quadro será feita uma análise dos textos legais e institucionais, além dos escritos dos principais textos tematizadores dos temas da cidadania e liberdade em ambas as reformas (como os de Benedeto Sarraceno), tendo em vista as práticas endereçadas a estes conceitos. O que se deseja saber é se estes conceitos apenas ativam práticas de auto-governo (aos modos da gestão liberal) ou se abrem espaço para uma problematização dos próprios dispositivos de reabilitação e do saber psiquiátrico.

Dr. Kleber Prado Filho:
Matrizes discursivas a luta antimanicomial brasileira


Resumo: Levando em conta a emergência de uma discursividade crítica sobre a loucura nos anos 1960 e 1970, a apresentação busca fazer uma reflexão a respeito de qual ou quais desses discursos teriam influenciado ou orientado os rumos da luta antimanicomial no brasil ao longo dos anos 1980 e 1990. Entre tais matrizes discursivas destacam-se a crítica antipsiquiátrica de Laing e Cooper, a abordagem de Thomas Szasz, a problematização da loucura em M. Foucault e a crítica antimanicomial de Franco Basaglia. A luta antimanicomial no Brasil acontece no final do século XX levando a enfrentamentos entre posições diversas que elegem diferentes alvos, estratégias e articulações políticas na disputa pelo tratamento social da loucura entre nós, envolvendo uma “reforma psiquiátrica” centrada na extinção legal do manicômio proporcionada pela aprovação da lei Paulo Delgado em 2001, após mais de dez anos de discussão no Congresso. A aprovação da lei leva, supostamente, a uma abolição manicomial, introduzindo uma estratégia de atendimento psicossocial como estrutura de “serviço substitutivo” do modelo hospitalocêntrico, experiência que traz consigo alguns equívocos a serem apontados. Buscamos assim, a partir de uma questão arqueológica, traçar uma genealogia do movimento antimanicomial brasileiro que possibilite visualizar uma cartografia desse campo de lutas entre nós, fazendo o exercício de uma história do presente.

Dr. Thiago Fernandes:
Poder e loucura: uma genealogia do agonismo em Michel Foucault

Resumo: Na primeira aula do curso “O poder psiquiátrico”, apresentada no Collège de France em novembro de 1973, Michel Foucault afirmou sua intenção de tomar o tema proposto a partir de um retorno ao ponto em que havia interrompido, em 1961, com a publicação de A História da Loucura na Idade Clássica. Esse retorno, no entanto, não seria uma mera retomada, mas uma problematização de suas conclusões anteriores que levaria a um deslocamento analítico. Ao invés de tratar a questão do “poder asilar” a partir do trinômioviolência/instituição/modelo familiar-estatal, como fizera no livro anterior, Foucault sugeriu uma mudança de perspectiva baseada na tríade microfísica do poder/táticas/estratégias, que seria necessária para notar como efetivamente se davam os processos de subjetivação que aconteciam tanto na instituição asilar como numa série extensa de outras instituições, como o exército, a prisão, a escola e a fábrica. Desse modo, Foucault apresentou, pela primeira vez, noções como as de “poder soberano” e “poder disciplinar”, que deixavam antever seu percurso de investigação acerca do poder que seria desenvolvido em escritos posteriores como Vigiar e punir, de 1975, eHistória da sexualidade – a vontade de saber, de 1976. No entanto, não seria apenas a noção de microfísica do poder, contrapondo-se à de macrofísica do poder soberano, que renderia desdobramentos importantes de pesquisa. A introdução das noções de tática e estratégia como observatórios para uma analítica do poder anunciariam o que Foucault chamou posteriormente, no curso “Em defesa da sociedade”, de 1976, de modelo estratégico para uma análise do poder e da política – das relações de poder – como guerra continuada por outros meios. Assim, propõe-se analisar como que a partir da problematização realizada à sua História da Loucura, Foucault teria avançado na produção de uma analítica do poder construída como uma agonística, ou seja, como combate incessante entre as práticas que visam governar condutas e as resistências que se insurgem, no emaranhado das lutas, clamando o governo de si.

Dr. Edgardo Castro:
Una lectura biopolítica de la Historia de la locura en la época clásica:


Resumo: En su conferencia de 1974 en Río de Janeiro, “El nacimiento de la medicina social”, Foucault introduce por primera vez el término biopolítica para referirse al gobierno de la vida biológica de la población. En sus cursos,Seguridad, territorio, población y Nacimiento de la biopolítica, esta problemática aparece vinculada no sólo a la formación de una medicina social, sino también a la constitución de una economía política, es decir, al advenimiento del liberalismo. Mi conferencia tendrá por objetivo mostrar cómo ambas vertientes del análisis foucaulteano, la del gobierno de la población y la del surgimiento del liberalismo, ya se encontraban presentes en la Historia de la locura en la época clásica.

Dr. Benílton Bezerra Jr.:
O Horizonte da Psiquiatria no Século XXI


Resumo: O lugar da loucura na vida social mudou nas décadas que separam o surgimento da obra foucaultiana e os dias atuais. Transformações políticas, culturais e tecnológicas também vêm alterando profundamente o mandato social delegado à psiquiatria, cujo centro de gravidade mudou, passando da experiência radical da loucura de alguns, para a performance cotidiana de todos. Na segunda metade do século XX, A História da Loucura foi fundamental para que a crítica à psiquiatria resultasse no programa de ação da Reforma Psiquiátrica. No século que se inicia, sua agenda precisa mudar. Como a perspectiva foucaultiana pode contribuir nesta direção?

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